sábado, 30 de julho de 2011

Lilás.

     Navegava-se o aroma em sala, em rua, em quarto, embaixo de lençóis, embaixo dos sóis, embaixo de chuvas, embaixo de guarda-sol, embaixo de árvore, palmeira ou porão. Se fosse significância, lhe diria um só. Mas, não. Nada que lhe aflige mais, que lhe torturasse mais, que lhe solicitasse mais, que lhe digerisse mais. Nada que mais lhe proseasse a prosa dos livros de Caio, Pessoa ou Quintana. Era Drummond, era Lispector, era bem mais. Era como se os olhos puxassem feito ímã. Olhos castanho-claro, cujos sóis eram escuros se comparados às suas pupilas mais bem delineadas que jamais vira em qualquer outro lugar. Lhe admirava o som grave, rouco, bobo e, às vezes, dissonante de uma voz pacata, pura e milagrosa, que lhe fazia o corpo estremecer e arder em neve. Voz passiva, ativa, inquieta, misteriosa. Ai, misteriosamente encantadora voz, misteriosamente encantador o som.
     Fazia-se necessário em noites de chuva, onde predominante era o ventar gélido, embora fosse necessário em manhãs ensolaradas, onde seu suor era a água para beber, refrescar a alma, o corpo, a pele. Pele essa que chamava distorcidamente e exageradamente pelo ego da pele sucessiva, que lhe encantara de tal forma que suas pupilas dilatavam ao prosear em pensamentos com seus sonhos, anseios e desejos. Sua sina. Sua vida. Seu amor. E, de fato, meu amor, é amor.
        Mas, então, questiona-se em canção de músico rebelde: "qual é a cor do amor?", e responde-se em silêncio, responde-se em olhar, responde-se em beijo. Ali, então, foi beijo a beijo, pele a pele, olho a olho, corpo a corpo, apenas e somente, respondendo qual, de fato, seria a cor daquele amor, já que "cada amor tem sua cor".