domingo, 31 de janeiro de 2010

Noturno.

   Olhar sólido, duro, frio. Palavras amargas. E embora não haja silêncio - por mérito óbvio das palavras -, há dor. Sofrimento. Mágoas. E há...vazio. Vazio. Vazio. Perde-se o alguém. Perde-se o amor. Perde-se todo ele. E não há mais beleza. O sol não irradia mais a luz intensa que havia até em noites de chuva, como quando havia amor. Noite. Boas coisas vêm. Mas, o tempo leva tudo. O tempo parece ter pressa.Vem frustração, como se não houvesse eternidade. E o tal clichê do "Nada é eterno" cairia bem, não? Não é morte. Pensando bem, não sei... Mas, é morte. Porém, morte de sentimento - a mais dolorosa, que mata aos poucos e com muitos...muitos copos, muitos colos, mas, muitos silêncios. E morre o amor, trazendo a total desesperança. E não há motivo para crer no 'viver', já que só se crê em existir porque o coração ainda bombeia sangue. Solidão. E parece que o túnel chegou, realmente, ao seu fim. O amor desaparece em sua frente. Os olhos deixam cair um pranto do coração, feito sangue. Pranto. Pranto, que não deixa os olhos olharem, e os molha. Não há crença. Não há a mesma paixão boba, que nos deixa bobos. Tudo ilusão! Momentos, lembranças e mágoa. Solidão...  
           Ah, coração alado!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pétalas caídas.


   Ela chorava. Estava nos degraus acima. Eu estava nos degraus abaixo, segurando meu choro. Ela parecia desnorteada. Não havia nexo, convexo, pretexto ou conversa alguma que a fizesse sorrir. Estava muda. Sem hesitar, subi os degraus. Ela me olhava com dor, medo, angústia, desesperança,... Abracei-a. Ela abraçou-me forte e, como se eu fosse um refúgio, suas lágrimas correram, seu soluço soluçou-se mais forte e o rosto enrubou-se. Meu coração apertou. Não sabia o que fazer, nem como fazer, nem o que dizer. Mas, percebi que as ações valiam mais e tudo que era preciso, naquele instante, era meu abraço. Senti-me forte, mas frágil. Sabia que meu abraço era o que necessitava e, realmente, era isso que necessitava. Nenhum conselho, palavra amiga ou piadas bobas, na tentativa de fazê-la sorrir. Bastava um abraço. Um abraço meu. Segurou minha mão. Naquela vez, eu sentia a mais pura verdade em seu olhar. Falou-me da dor. Falou-me da dor de perder seu amor por 'um erro'. As palavras me serviram como arma, atirando em meu coração, mais precisamente. E tudo que eu queria dizer, era tudo o que ela queria escutar:
- Eu estou aqui.
- Hunrum... Te amo, minha amiga. Te amo.
- Eu também...
   Silêncio... Barulho! Passos rápidos. Molho de chaves. Porta abriu-se. Passos lentos. O Motor ligou. O portão abriu-se. O carro saiu. Fiquei em vazio. Carros. Motos. Pessoas. Nada. E o vazio prolongou-se por horas, pois tudo que tinha eram lágrimas. E as lágrimas saíram de meus olhos feito pétalas em outono, levando o que ainda restava de mim. Entrei em casa. O som estava ligado. Desliguei-o. Silêncio. Chaves. Porta fechada. Silêncio!  E quem precisava de um abraço, agora, era eu mesma. E chegou meu outono, novamente...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ana e o mar

Baseada em "Ana e o mar": canção de Fernando Anitelli, líder da trupe e idealizador do projeto d'O Teatro Mágico)



Descalça na areia. Buscava, até no céu, as mais perfeitas conchas.
Sangue corria forte na veia. Estavam a dançar, no mar, as ondas.
Andava em direção ao mar. Como já não bastasse seu balançar,
Andava nas estrelas. Ela andava no luar. Ah, mar...


O céu, um manto. O véu, recanto.
Era sereia. Sereia até na areia.
Cantava o canto. Um tanto triste, entretanto.
Sem o mar, só meia. Farol, praia, lua cheia.


Pele. Sentia a brisa. Brisa alisa a lisa pele. Brisa a pele lisa alisa.
Ali se fazia um marco. Era areia. Era mar. Era brisa. Era barco.
Estava apaixonada, pobre Ana, pelo mar. Sequer sabia como amar.
Amava as estrelas. Ela amava o luar. Ah, mar...


Ele descobriu, assustou-se e sorriu.
Apaixonou-se por Ana. Não pela lagoa, como previu.
Sem vê-la há uma semana: Oh, mar de dor!
"Ana e o mar", mar e Ana. Soneto de amor.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Nostalgia.


   Quando se é criança? Ah! Os adultos são chatos, mas são quem mais admiramos. Vem a adolescência, sem vermos o tempo passar. Apressada. E... ela passou. Enfim, é a hora da tão sonhada fase adulta. E nós ficamos... chatos nostálgicos. Sentimos falta do tempo em que podíamos correr, pular, gritar, chorar, gargalhar e fazer coisas 'bobas' sem motivo. Abstinência de espontaneidade. Falta aquela ida ao shopping com os pais; se lambuzar toda de sorvete e, mesmo assim, ser a 'coisinha linda da mamãe' e a 'princesinha do papai'; vestir as roupas, calçar os sapatos e usar a maquiagem de 'mainha' e fazê-la sorrir, enquanto você os usa por querer ser igualzinha à ela; sentar na barriga do papai; ser pega na escola pelos pais, que perguntam como foi seu dia; ser acordada pela mãe, que abre a janela e tira seu cobertor; ser abusada pelos irmãos; se machucar todo dia no parquinho da escola, chorar e brincar de novo; fazer parte do grupinho da Luizinha; dividir o saco de pipoca com o namoradinho de colégio; ser levada no colo para a cama; chegar cedo na escola só pra colocar sua lancheira na frente da fila; fazer barraco/casinha com cobertor e colchão; desenhar deitada no chão; tentar fazer uma piscina no box do banheiro e nadar nela; sentar no colo do Papai Noel e mandar cartas pra ele; brincar de polícia e ladrão, pega-pega, tica-trepa ou passa o anel; atravessar a rua de mãos dadas com o papai; ter sonhos e saber que podia alcançá-los; ter um álbum para cada coisa que você fizesse; se deliciar com as receitas da vovó; ficar ansiosa com mais de semanas antes do primeiro dia de aula... É saudade, meu amor. Nostalgia. E nós só percebemos o quão nostálgicos somos no momento em que seu avô fala de você quando criança e começa a chorar, sorrindo, como se você nunca tivesse crescido; seus pais choram dias antes de você completar mais um ano, olhando suas fotos antigas e dizendo: "É, como o tempo passa rápido. Um dia desses, você estava nascendo..."; você vai saindo de casa para sua primeira festa e seus pais a olham com os olhos cheios de lágrima e você consegue ler o que seus olhos molhados dizem: "Ela cresceu."

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Borogodó.

Borogodó: É algo intraduzível. Pode ser chamado também de charme, approach ou ziringuidum. É aquilo que nos cativa, mesmo não sendo belo ao ponto de vista de alguns.


   As pessoas, normalmente, são fúteis. Sim, fúteis. Se preocupam mais com um padrão de beleza mantido pela sociedade e com as condições financeiras que a pessoa apresenta. Não falo que devemos namorar alguém que esteja sempre desarrumado ou que não tenha boas condições, nem que não podemos nos interessar por pessoas que possuam uma 'capa' mais bonita. Certo, é normal. Eu sei que é normal. Até porque, se nos cuidamos, - ou não - queremos alguém bem visto ao nosso lado. O problema é que, apesar de alguns ainda não saberem bem por que, há algo que chama mais atenção que um simples 'rostinho bonito'. O borogodó pode estar naquele sorriso que ilumina qualquer lugar, no olhar misterioso, na maneira de andar, num sotaque bonito e/ou, até mesmo, na famosa pesonalidade - seja no humor, na simpatia ou no tipo de inteligência atribuída. Seja lá o que for, borogodó não é só parecer... é realmente ter. E há quem diga - eu, por exemplo - que 'tanquinho' não é tão atraente quanto uma 'barriguinha de chopp', que músculo não é nada quando há cérebro e que playboys não são se comparam aos nerds. Borogodó, meu bem... Simplesmente, borogodó.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Na varanda.


   Ela estava em seu quarto. Pensava, e mais nada. Estava quieta, estava só. O silêncio interrompeu-se com o canto da brisa, que a chamava. A brisa a puxava para fora. Ela a obedeceu e pôs-se em direção à sua varanda. Ah, boa varanda... Ar puro, silêncio melódico e calmaria. Descalça, sentia o gelado do piso em seus pés. O corpo tremia. Havia uma rede estendida. Era branca. Deitou-se. Não havia contraste algum entre o branco da rede e o tom de sua pele. O vento a balançava tanto, que ela podia crer que havia alguém ali a niná-la. Ela via um céu todo estrelado como um teto. Luz da lua iluminava a noite. Uivar de cachorros e barulho de talheres a se baterem nos pratos, era tudo que se ouvia. De repente, música. "Vento, ventania nos olhos tão distantes (...)". O vento beijava seu rosto. Frio. As palmeiras dançavam. Folhas voavam. Flores dançavam. Maripousas pousavam. Era surreal. A vista que se tinha ali era realmente incrível. A música parou. Novamente, silêncio. Levantou-se. Entrou em seu quarto, pegou seu violão e voltou. Era como Euterpe. Era Euterpe com violão, não com flauta. O violão parecia mais doce a cada dedilhar. Não havia nada. Mas, havia tudo. Era como se houvesse o mundo inteiro num lugar pequeno da casa. Por isso, era o melhor lugar. O melhor lugar do mundo. Era onde estava sempre. Na varanda ela era feliz. Na varanda...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pingüim.

(Quando dois pinguins se encontram, ficam juntos para sempre! ...Be my penguin?)


domingo, 17 de janeiro de 2010

Velhice precoce.

   "Como ela é madura pra sua idade!", era o que todos comentavam sobre a garota. Ela? Gostava sim, mas cansava de ouvir o mesmo, gostando ainda mais de poder ter seus momentos de menina, simplesmente. Gostava de se molhar na chuva e de correr; brincava de boneca; sorria de jeito sapeca; vivia sorrindo, fazendo os outros sorrirem;... Mas, era madura demais, na maioria das vezes. Nunca perdeu o jeitinho de menina, mas costumava agir feito mulher. Devido aos problemas que apareceram aos seus 10 anos de idade, ela amadureceu cedo. Ela cuidava dos amigos, da família, dos cachorros,... só não conseguia cuidar de si. Dava seu ombro, seu consolo, suas palavras e seus abraços para os que a rodeavam. E ela, como ficava? "Ela não precisava de nada disso, ela era madura!", era o que todos pensavam.
   Num dia, começou a chover. Sempre que chovia, ela ficava em casa na companhia de um chocolate quente, boa música e um bom livro, no conforto de sua caminha quente. Só que aquele dia era diferente. Colocou seu vestidinho com um tênis, fez rabo-de-cavalo no cabelo, e saiu. Não saiu com um guarda-chuva, saiu correndo na chuva. Era um sonho real. Era meninice. Estava fugindo da mesmice de ser um adulto chato. Parecia um tipo de Peter Pan, e agia como se fosse voar a qualquer instante. Tentou voar. Caiu. Machucou-se. Chorou. Chorava feito criança. Mas, o chorar de dor se confundia com o chorar de muito sorrir. E levantou. Brincou no parque. Passou o tempo. E nem percebeu... já raiava imperador, o sol. Voltou pra casa. Abriu a porta devagar e escondida - como se temesse que a vissem. Toda molhada e machucada, subiu devagar os degraus. Entrou em seu quarto. Fechou a porta. Arrumou-se para não pegar um resfriado. Já dormia o sol. A lua e as estrelas tomavam conta do céu. Sentou-se em sua cama, onde podia ver o que acontecia lá fora. Ela sabia que ela tornava mais madura a partir daquele dia, pois havia aceitado que era só uma criança.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Insanidade.


   Sem pseudo-moralidade. Apenas, escândalo. Carro corre rápido, com um dos vidros abertos e uma menina 'louca'. Ela fala com as pessoas que estão na rua. São alguns 'loucos' da rua que a sorriem. Sorriem por saberem que não há insanidade, há liberdade. Outras pessoas, a chamam de bitolada e sorriem mesmo assim, percebendo que insanas são elas, que jugam-se tão 'sãs'. Ela surpreende os que estão no mesmo veículo que ela e não possuem a mesma 'coragem' que ela. Uma 'falta de coragem' que deprime, pois os impede de serem realmente livres. "Tenta. Isso liberta!", é o que ela diz, "Liberta-se!" E foi assim, que seu grito contaminou os que por ali passavam.

A maior verdade é que ela e os demais que foram chamados de loucos, não são os únicos insanos. Cada um tem um louco consigo. Cada um tem o poder de ser livre.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Vírgulas, pontos...


"Saudade é solidão acompanhada. É quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já..."
   Pablo Neruda acertou. Ele havia ido embora. E a saudade? Não foi. Ela ficou, machucando. Era melancólico. E qualquer um que a visse num parque, olhando o céu, sabia que ela estava triste. Que ele a havia deixado. E que a saudade era apenas uma lembrança, sem mais futuros certos.

Las cenizas.


   Despertou. Já não estava no antigo quarto. Olhou para o lado esquerdo da cama. Ele já não estava mais lá. Ela não tinha mais aquela vontade de voltar à sua rotina normal, pois ele não estava mais nela. E acordar, era só... acordar. O sol e o edredon não bastavam. Não havia mais seu calor. Não havia mais nada. Só restavam ali as cinzas de um amor morto. Não havia 'morrido' realmente, ele insistia em viver. Apenas, as lágrimas o afogavam. Ela até que tentava, mas a borracha só apagava a tinta do que estava escrito, não apagava as marcas de quem escreveu. E quanto mais tentasse apagar, o papel rasgava. Estava só. O aroma de seu shampoo ainda estava no travesseiro; seu pefume estava nos lençóis; seu calor havia se perdido no corpo dela; ela ainda podia sentir seu hálito de menta e seus dedos a dedilhá-la, seu cafuné. Mas, ele não estava mais lá. Ele não estava.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Game over.


   "E o que tiver de acontecer, que dessa vez, seja pra sempre." - E foi mesmo um "pra sempre", só que foi um 'fim pra sempre' . Dessa vez, não teria volta. Definitivamente, havia acabado. Os dois saíram magoados, mas era a única forma que havia de não dar continuídade a mais e mais mazelas. Enfim, era um término real. Um término que estava predestinado a ocorrer, apenas estava sendo adiado. E adiaram, até o momento onde era inevitável fazê-lo. Estava tudo acabando, aos poucos. Mas, era isso, não havia mais nada para se fazer, e ponto final... Ponto final. Ela ficou em casa, chorando. Ele saiu, chorando. E acabou.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Eterno abraço.


   Magoados, eles pediram um tempo. Decidiram esquecer um do outro. Decidiram-se entre aspas, já que não compreendiam o poder que aquelas palavras de adeus tinham. "Palavras têm poder", porém, não era compreendido o dizer das próprias. E "tempo" era tudo que lhes cabia possuir no determinado instante que o pediram. Não esqueciam nem buscavam esquecer. Havia tensão. E a tensão, era por um medo inconstante de perda. Uma perda que, talvez, não fosse restaurada a tempo.
   Moravam na mesma rua. Mesmos amigos. Mesmos lugares. Mesmos sentimentos. E por assim ser, encontravam-se por centenas de vezes, sem ser de propósito. E quando tentavam, não se viam. Era natural. Era o destino que se encarregava dos dois. Se bem, que estavam em momentos iguais: haviam passado pelo mesmo término e moravam praticamente na mesma vila.
   Foi num domingo em que a rua estava triste, deserta e molhada de uma chuva forte e permanente, que... Ela saiu. Ele saiu. Seus olhares se atravessaram. Os sorrisos não negavam a felicidade plena que se exaltava. Havia um único guarda-chuva, o dele. Ela estava com uma bolsa na cabeça, já que o seu havia quebrado minutos antes de sair. Se aproximaram. A chuva não parou. Ele elevou seu guarda-chuva de uma forma que ela ficass protegida da chuva por alguns segundos. Ele a sorriu, colocou seu beijo no beijo dela. No momento em que ela pensava que estaria protegida, ele jogou seu guarda-chuva, pegou a mão dela e correu. Eles corriam feito crianças, fugindo da chuva e sorrindo sapeca. Chegaram a um campo ali perto, o mesmo campo onde a havia pedido em namoro. Tirou uma flor da mesma forma quando a havia pedido em namoro, e a entregou. "Eu sei que posso fazê-la feliz.", ele sussurrou enquanto a abraçava. E antes de qualquer coisa, ele pediu: "Me abraça para sempre?". Ela sorriu: "Eu aceito."

Romantismo.


   Não há como explicar explicar exatamente aquela sensação. Era a primeira quarta-feira de Janeiro daquele ano. Era verão. Estava num lugar lotado. Música alta. Dança. Vazio. Um vazio por não achar alguém que devia estar ali - com ela - naquele momento . Lhe era estranho o sentimento abordado: tumulto, solidão, anestesia e ansiedade. Olhava para os cantos, lados, versos, planos, ... e nada - quer dizer, "ninguém". Porém, ela o sentia ali com seu coração, mesmo que seus olhos não o captassem. Embora estivessem amigos com ela, não havia um alguém que a faria sentir como se houvesse um "nós", que a fizesse sorrir com as mesmas palavras bobas que, um dia, foram faladas por ele. Ela partiu daquele maldito lugar, enfim. Chegou em casa. Jogou-se em sua cama. Não dormiu. Se pôs a pensar...nele. O sono a pegou desprevinida enquanto lia Guimarães Rosa e escutava o Baleiro a cantar: "Quando eu nasci, veio um anjo safado, um chato dum Querubim, que decretou que eu tava predestinado a ser errado assim. Já de saída, minha estrada entortou, mas vou até o fim(...)". Adormeceu a menina, enquanto o cd arranhado insistia em tocar por várias vezes um único trecho: "Mas, vou até o fim. Mas, vou até o fim. Mas, vou até o fim..."
   O dia havia raiado e ela estava ali, de pé. O sol a acordara. O vento frio a havia tirado da cama depressa. Era um novo dia. Era uma nova vida. O sol lhe sorria e a brisa lhe trazia paz. Eram bons ventos que sopravam naquela manhã. Ela sentia que seria um dia bom, um dia em que ela estaria bem. Não estava absurdamente feliz ou triste, apenas, bem. Se bem, que estaria mais que bem... Ele estava tomando conta até de seus sonhos.
   Passaram-se dois meses. Esbarrou em alguém, enquanto subia as escadas do colégio. Era ele. Ele a sorriu, ela o sorriu. Abraçaram-se ali, no meio daquele tumulto que outros faziam ao subirem aqueles degraus, e nem se importavam com o que pensavam. Foi estonteante, mágico, único. Um momento inusitado que nunca imaginariam, mas sempre desejaram - apesar de que os gritos dos que ali estavam, fosse trocado por uma música de fundo e o lugar desse encontro fosse um parque, ou um lugar florido ao céu aberto. Quase que não se largavam mais, pois já sabiam que era o momento mais especial da vida dos dois e que não seria admitida uma repetição. Era espontâneo. Era doce. Era literário. O abraço durou quase dois minutos, todavia, não foi tão longo... pois, a saudade havia sido cruelmente demorada, os afastando por seis meses.
  "Promete para mim que... " - ele falou e foi interrompido pelo tocar de um violão erudito, que indicava o início da aula. Não satisfeito, tentou novamente: "Promete que não vai sumir outra vez e que se for para sumir, irá avisar. Promete?" - ela respondeu: "Prometo. Só não entendi uma coisa... Por que tenho que avisar?" - Ele sorriu e a abraçou. Em sussurro ao pé do ouvido: "Porque se for para sumir, que você suma comigo." - Nada mais havia para ser dito. Calaram-se, então. E o silêncio só foi interrompido ao estalo de um beijo. Um beijo que significava algo que palavras não poderiam traduzir ao passarem dos lábios: "Eu te amo".

domingo, 3 de janeiro de 2010

Ponto final.

"(...)É o ponto em que recomeço recanto e disperso da magia que balança o mundo. Bailarina e Soldado-de-chumbo... Nossa casinha vazia parece pequena sem o teu ballet. Sem teu café requentado, soldado-de-chumbo não fica de pé."
   Ela já havia chorado bastante. Chorava de dor. Embora passados os dias, persistia a chorar. Até que houve um momento em que descobriu não haver algum mínimo motivo para sentir dor. Talvez, sim... já que sentia-se enganada, traída. Mas, e daí? Suas lágrimas não fariam o tempo voltar nem os arrependimentos acabarem. Decepções sempre haviam, porém, ela possuía o poder de decisão sobre sofrer ou não. Ela decidiu sorrir, por si só. E a única dor que ela sentiria seria nas mãos e nos pés... não mais no coração.
   Dias após sua decisão, quem sofria era ele, que estava submerso em um abismo da solidão, mesmo estando com um outro alguém, pois não conseguia ser feliz sem ela. Ela era seu sorriso. Ela era o seu sorrir. Ela era quem o fazia feliz. E ele não poderia modificar mais nada, pois mudou tudo ao ferir seu coração e perdê-la numa viela. Foi ele quem desmereceu todo aquele absoluto amor. Então, foi assim que ela mudou. Pela primeira vez em sua vida, ela era independente para sorrir. Ela aprendeu a ser verdadeiramente feliz. E só restam lágrimas, solidão e uma sapatilha furada... a mesma sapatilha que ela usou quando deu o seu adeus - mais uma vez, ele desacreditou. Ela soube que era aquele o momento exato de partir. E sem nem sequer olhar para trás, partiu.

Amor e utopia.

"Só sei que quando eu toquei a sua boca, algo aconteceu... eu senti como é tão gostoso te beijar. Agora, eu não tenho mais sossêgo, perdi a minha paz... Eu só te quero muito mais!"

   Em todos os momentos de nossas vidas, há uma música que nos marca, que pode traduzir uma história, um momento, um sentimento, um alguém. Seja pela letra, pela melodia, ou pelo conjunto que elas formam, a música é tida como essencial. Semanas passadas, estamos com alguma música na cabeça; nesse momento, temos outras; e assim, se sucede. Cantamos 'brega' quando estamos apaixonados, e há as 'elevadoras de auto-estima' e/ou 'roedeiras' quando sofremos desilusões. Não deixamos a música parar de tocar. Não paramos de dançar. Não paramos de viver. Não há um 'por quê?' ou um 'porquê'. Só sei que meu Revellion foi feito a partir de um axé de 2007 - para alguns, seria decadência, mas não enxergo assim. A música me deixa a pensar nele, quer dizer, no meu ideal do que ele seja, apesar de saber que não é exatamente como eu o imagino. Não o conheço. Troquei algumas palavras bobas com ele, e ponto. Mas, e esse ponto? Quem sabe, sejam somados mais dois desses pontos, havendo reticências.
   Sim, na verdade, não. A música não tem nada com o que realmente aconteceu, mas, bem que poderia ter alguma semelhança com o que poderia suceder nesse novo ano. A única música que possa significar algo do que realmente ocorreu seria "Amor Platônico". Oh, por que será?! /ironia. Idealizei o momento em que o conheceria - confesso. Talvez, isso seja uma mania de me 'apaixonar' para me 'desapaixonar'. Comum, embora, estranho. É uma auto-defesa, se bem, que viver de utopias não é o que podemos chamar de 'viver'. Todavia, alguns 'vivem' assim, e é assim que 'vivo', O real dói, é sofrido, é injusto. A única injustiça que há numa utopia é por ser utopia, é por não ser algo real...apesar que, se fosse real, não seria tudo tão maravilhoso quanto nos sonhos. Mas, enfim, é só sonhar e crer... quem sabe, um dia, o destino não nos faz ter realidade em nossos sonhos? Somos o que sonhamos... Eu sonho alto, e você?!
Até onde vai o seu sonho?