quinta-feira, 18 de agosto de 2011

De peixes.

     Seus cachos eram como ondas, onde mãos desejariam navegar feito canoa, veleiro, barco, navio ou balsa. Feito ondas, provocando o tsunami mais provocante que ardia em total calmaria aos pescadores. Pescadores aqueles que pescavam seu sorriso, seu canto. Afirmavam que era como uma lenda do mar, uma sereia, cujo canto era supremamente sedutor aos ouvidos dos que se aproximavam de suas águas.
     Como pérolas, seus olhos brilhavam algo inexato, algo magnético, algo bem mais além do que poderia ser penetrante, apenas. Lá, ouvia-se por todos os pescadores: "Não há nada mais doce que as águas salgadas daquele mar." O ser mais inspirador de toda a mitologia. De toda a mitologia, tudo o que mais seduz. Tão belos os olhos, que atraía os tripulantes e fazia os navios colidirem com rochedos, afundando-os. Segundo a mitologia,  enfurecia Afrodite. Era feito Pisinoe, Thelxiepia ou Ligeia. 
     Feito rochedos, seu corpo quebrava, repartia, devorava qualquer um que se atrevesse a tocá-la, a tentá-la. Suas mãos singelas, gélidas, macias, que tocavam corpos feito flauta, em total e perfeita harmonia. Melodia doce, doce melodia... Seus lábios, molhados ao gosto da cachoeira, onde se aproximava aquele que desejava, mais que nunca, afundar-se, afogar-se em seus braços, em seu colo, em seu peito. E o sexo, tão mais sedutor, prazeroso, que colocava todo o hedonismo em conspiração aos céus. Desejava-se, temia-se, amava-se. 
     Tentados os tripulantes, jogavam suas redes para pescá-la, mas, nada...nada que um único e seu único pescador fizesse para lhe fazer tentar seduzir, para lhe fazer cantar o canto triste e sedutor de sereia, que o fazia ficar perdido. E, assim, apaixonava-se perdidamente pelo tom dissonantemente perfeito das melodias mais bem afinadas que sua voz poderia oferecer.
     Nada mais frustante aos tripulantes que o silêncio da sereia, tão mais forte que o próprio cantar místico. Sereia, deusa, ninfa, fada,...sei lá, o que fosse, apenas, pisciana. Atrai com seu canto e devora. Canto que vem como o cair das águas, como cachoeira, em que não há Odisseu que fuja do feitiço, do encanto, do doce som do canto. Sabendo, esta, que encanta a quem quiser e devora, novamente, com os lábios, com os dentes, com as unhas. Um devorar que consta desde o sorriso ao perfume, ao corpo, ao beijo, ao canto, ao silêncio. E sabia, sim, que não havia ninguém, que quisesse, que não poderia enfeitiçar. Enfeitiça-se.