segunda-feira, 21 de junho de 2010

Caio F. Abreu

     Dormindo ou acordado, eu recebia sua partida como um súbito soco no peito. Então olhava para cima, para os lados, à procura de Deus ou qualquer coisa assim - hamadríades, arcanjos, nuvens radioativas, demônios que fossem. Nunca os via. Nunca via nada além das paredes de repente tão vazias sem ele. Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Junho pluvial.

     Após dias e mais dias, a chuva não cessava. Dias. E não cessou. Nunca gostei de chuva. Certo, gosto só quando estou embaixo de um cobertor, em minha cama, num fim de semana e com um pote de sorvete, como a Bridget Jones. Mas, infelizmente, não nasci com a incrível habilidade de gostar de ficar toda molhada enquanto espero um ônibus, molhar a calça ao sentar num banco molhado, ficar a cara da Samara de "O Chamado",  sentir sono durante uma aula, acabar com os planos de ir à praia, acabar com o churrasco, ou de ser deixada na mão por um guarda-chuva que quebrou. A única coisa que me agrada é o frio e aquela boa sensação de calma. Mas, como Murphy não vai muito comigo, a cidade parece estar em constante sol, mesmo com chuva, e parece um batidão de funk... ou seja, muito calor e transtorno.
     Porém, num dia, tudo estava diferente. Estava tudo tão diferente naquele dia, que mesmo se houvesse um toró, não sentiria a chuva. O dia estava ensolarado. Apesar do sol escondido, um grande sol se fazia ali. Eu me fazia sol. Você me fazia sol. A gente estava sol. E só sei que, aquele dia, foi diferente. Nem de guarda-chuva , fciar com a calça seca, ficar de cabelo bonito, ir à praia ou a um churrasco, nem precisava ter um guarda-chuva que prestasse. Eu tinha um sol na chuva.  Tinha tudo. Naquele dia, eu gostei da chuva. E nem sei bem por que...não sei.


"Deixa que esse verão eu faço só.
Deixa que nesse verão eu faço sol."

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Que porra é essa?!

     Estava em aula, numa segunda-feira, enquanto uma professora falava algo sobre o amor, sobre o romantismo, sobre cavalheirismo. E eu, puramente romântica, falei docemente: 
- Que porra de amor, homi. Amor não mais existe!  
     Minhas amigas, que são completamente apaixonadas pelos namorados, me repreenderam com um olhar de desprezo, bem direto e bastante frio.  Uma delas falou: 
- Essa é boa. Olha quem fala! Você é toda romântica, que chega a ser melosa.

     Certo, não usei bem as palavras. É, continuo sendo aquela mesma adepta ao romantismo à moda antiga, cheio de flores, amores, poesias, serenatas, olhar nos olhos, passeios na praia, mãos dadas, dança lenta com rosto colado, relacionamentos verdadeiros e duradouros, suspresas, abrir porta de carro, bilhetinhos, ombros ocupados pelos braços do amado, e tudo aquilo mais que os "moderninhos" julgam pieguice, caretice ou seja lá o que julgem - não me importa o que pensam. Elas se surpreenderam com minha afirmação pelo simples fato de não compreenderem sobre o que eu realmente falava, sem tentarem andar na minha linha de raciocínio "insensível". Gente, sou do tipo que se amolece com bebês, com olhares, sorrisos, palavras, pequenos gestos, detalhes, aromas, lembranças, fotos, cartas, tickets de cinema,... Choro com músicas, filmes e propagandas de biscoito - é verdade, não é só o de margarina que pode ser emocionante. Modestamente, insensível é uma característica que não convém a mim, pode ter certeza.
     O que eu quis dizer é que, infelizmente, a modernidade cria uma banalidade enorme em cima dos relacionamentos. Vivemos num momento em que o "eu te amo" é dito da mesma forma em que se pronuncia "oi", sendo automático; namoros vêm e vão a 120 km/h; ficar por ficar, o que inclui a pegação geral; infidelidade; deslealdade; relação descompromissada e vulgaridade. Um "eu te amo" falado da boca para fora não é romantismo.  Só  pedir em namoro no dia dos namorados não é romantismo. Só usar um anel de compromisso não é romantismo. Quer dizer, são românticos, mas quando há verdade nos atos.  Tudo depende  dos atores da peça para que o espetáculo seja aplaudido pela platéia. Desculpe-me pela sinceridade, mas, é a verdade. 
     Não é preciso um discurso, um anel, um pedido, um presente, ou algo assim, para que haja romantismo.  Precisa de duas pessoas, e "só". Cara, quando você ama, você se torna um pateta, um tolo, um panaca. Acredite: amar verdadeiramente a ponto de se tornar um imbecil - no melhor sentido das palavras, se é lá que há - é isso que é romântico. Então, menos hipocrisia e mais verdade. Mais amor. Ame. Seja idiota. Guarde o seu "eu te amo" para o seu amado-alguém. Guarde o seu "eu te amo".

domingo, 6 de junho de 2010

sábado, 5 de junho de 2010

Arrepio.



     Calafrio. Calor, ou frio. Com o encaixe de um abraço, ou de um beijo. Ao ouvir uma voz, ou uma música.  Ao toque do vento, ou da chuva. Ao toque de um respirar no pescoço, ou um sussurro no ouvido. Ao ver algo, ou alguém. Por medo, ou ansiedade. Por tocar, ou ser tocado. Por paixão, ou amor. Por tantos e outros, ou tudo e todos. Por um olhar, ou um sorriso. Com o roçar da barba, ou com o roçar dos dentes. Por olhares, ou sorrisos. Por lágrimas, ou soluços. Ao sentir uma presença, ou uma ausência. Com um sorrir brilhante, ou um olhar marejado. Com um som, ou um silêncio. Com a calmaria, ou a dança. Numa praia, ou numa varanda.
     Seja lá o que for ou por que for, arrepie-se. Provoque a melhor das sensações. Se deixe provocar. Provoque. Arrepie.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Veneno.

     O pior de todos os venenos. Hipocrisia, ações medíocres. Pessoas de falso moralismo agem assim, como cobras, atirando seu veneno sobre o sangue de alguém de sangue vivo. Procuram vítimas sem força o bastante para defesa, e as estragam, as furam com suas presas, enrolando-as, enforcando-as. Aquela mania de criticar o modo de agir, de vestir, falar, pensar, andar, olhar, sorrir, brincar, sonhar, do que ouvir,... Engraçado é que, pessoas assim, não sabem olhar pro seu próprio nariz. Não sabem fingir que são alguma coisa. O pior, é que não são nada. Não são. Cobras, venenos, insetos. Dão nojo, tédio, raiva. E, realmente, não são nada. Nada.