segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Vestígios.

     Havia parado por um tempo. Peguei o violão dissonante e tentei-o tocar. Não saía nada. Não saíam notas. Não saía melodia. Apenas, saía algo parecido com um som em ocasião do Efeito Doppler. Não por questão das cordas sem sintonia do violão desafinado, mas, por mim mesma. Até o vento soava triste naquele instante. Liguei o rádio e passei a ouvir uma canção em que repetia por diversas e diversas vezes "Olhe o que você fez, fez a todos de bobo...parece tão divertido, até você perder o que ganhou". Era uma melodia depressiva, que entristeceria qualquer um que a ouvisse, mesmo sem atenção nenhuma, e que esfriava meu café forte e amargo.
     Estava sozinha. Não estava só por me sentir só, mas, me sentia só por não ter ninguém em casa para conversar, ninguém. Me sentia como uma bailarina cheia de gel de cabelo fazendo seu coque e sem sua sapatilha meia-ponta. Eu via todos os dias a pessoa que mais amava sem força nenhuma, como uma criança de colo, num berço frágil. Além disso, insegurança, brigas, dores, mágoas, falta de entendimento. Via alguém que, em minha infância, era tão forte e que, agora, precisava de minha força. Sinceramente? Não sabia como. Estava tudo errado cronologicamente e tantos "logicamente" que poderiam soar ao vento. Eu me acrescia de mazelas. O peito, amargurado, quase sempre estendia mágoa até meus olhos marejados. Perdi as noções de tempo, perdi sonhos, perdi forças, ganhei labirintos. E a verdade é que, quanto mais dores, mais dores. Mas, é só abrir a janela pra ver o Sol. Um vestígio de Sol.

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