quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Apenas mais um Ps.

     Todas as madrugadas, quando dormiam juntos, ela acordava, como num sopro. Parava por um instante, olhava-o e voltava a dormir. Por todas as manhãs, ela era quem acordava primeiro, só para observá-lo, mais uma vez, antes de despertar. Quando os cílios dele tornavam-se trêmulos, fechava os olhos, como se ainda dormisse, e ele acordava, chamando-a logo. Ela "acordava" e saía do quarto, deixando a porta entreaberta, para que ele passasse por lá e a visse na cozinha, como em todas as manhãs, após seu banho. E, ao ir ao quarto, achava, em qualquer que fosse o lugar, um bilhete que o fazia sorrir todos os dias. Sim, todos os dias. Bilhete, este, que era tão mais valioso que os próprios topázios e esmeraldas e diamantes e pérolas e jades e jaspes e rodocrositas e rubis citrinos e turquesas e quartzos e opalas e granadas e brilhantes e águas-marinhas e ônix e ágatas e ametistas. Era bem mais, até. Mais e ainda mais e mais e mais. Lá, não sabia ainda o que havia, já que era como um segredo de casal, que só poderia ser quebrado após algum rompimento. E houve um rompimento...na vida dela. Então, fiquei sabendo exatamente o que era que o fazia sorrir todos os dias. Ele me prometeu não contar até um segundo rompimento, mas, houve, então... Era o típico. Era o rotineiro. Era, apenas, o perfeito. E como o era!   
     Todos os dias, era escondido um bilhete vermelho, que ele encontraria e leria, como se nunca tivesse lido. Só que, há algo que não entendia muito bem... Lá, nos bilhetes, havia sempre a mesma frase, com a mesma letra, sempre. O que eu não entendia, até certo momento: "Por que ele procurava todos os dias por um novo bilhete, igual a todos aqueles bilhetes que guardava, há tantas anos?"    Ele nunca me respondeu. Na verdade, o que me respondeu foi a caixa de bilhetes. Foi necessário ler dois bilhetes: um, que era vermelho, como todos os outros, e o outro, era um branco - o último bilhete. O primeiro, dizia: "eu te amo". Já o segundo, dizia: "Pela última vez que lhe escrevo, repito: eu te amo".  Era o típico. Era o rotineiro. Era, apenas, o perfeito. E como o era!              E foi a partir daí que compreendi quase tudo. Porque tudo, mesmo, só passei a compreender quando encontrei alguém que fazia questão de ler meu "eu te amo" todas as manhãs e sorrir,  como se também dissesse me amar.

E, apenas, mais um Ps.: vale à pena fazer alguns sacrifícios, todos os dias, para ouvir "eu te amo" e dizer, sorrindo, não só "eu também", mas, "eu também te amo".

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