sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Romantismo.


   Não há como explicar explicar exatamente aquela sensação. Era a primeira quarta-feira de Janeiro daquele ano. Era verão. Estava num lugar lotado. Música alta. Dança. Vazio. Um vazio por não achar alguém que devia estar ali - com ela - naquele momento . Lhe era estranho o sentimento abordado: tumulto, solidão, anestesia e ansiedade. Olhava para os cantos, lados, versos, planos, ... e nada - quer dizer, "ninguém". Porém, ela o sentia ali com seu coração, mesmo que seus olhos não o captassem. Embora estivessem amigos com ela, não havia um alguém que a faria sentir como se houvesse um "nós", que a fizesse sorrir com as mesmas palavras bobas que, um dia, foram faladas por ele. Ela partiu daquele maldito lugar, enfim. Chegou em casa. Jogou-se em sua cama. Não dormiu. Se pôs a pensar...nele. O sono a pegou desprevinida enquanto lia Guimarães Rosa e escutava o Baleiro a cantar: "Quando eu nasci, veio um anjo safado, um chato dum Querubim, que decretou que eu tava predestinado a ser errado assim. Já de saída, minha estrada entortou, mas vou até o fim(...)". Adormeceu a menina, enquanto o cd arranhado insistia em tocar por várias vezes um único trecho: "Mas, vou até o fim. Mas, vou até o fim. Mas, vou até o fim..."
   O dia havia raiado e ela estava ali, de pé. O sol a acordara. O vento frio a havia tirado da cama depressa. Era um novo dia. Era uma nova vida. O sol lhe sorria e a brisa lhe trazia paz. Eram bons ventos que sopravam naquela manhã. Ela sentia que seria um dia bom, um dia em que ela estaria bem. Não estava absurdamente feliz ou triste, apenas, bem. Se bem, que estaria mais que bem... Ele estava tomando conta até de seus sonhos.
   Passaram-se dois meses. Esbarrou em alguém, enquanto subia as escadas do colégio. Era ele. Ele a sorriu, ela o sorriu. Abraçaram-se ali, no meio daquele tumulto que outros faziam ao subirem aqueles degraus, e nem se importavam com o que pensavam. Foi estonteante, mágico, único. Um momento inusitado que nunca imaginariam, mas sempre desejaram - apesar de que os gritos dos que ali estavam, fosse trocado por uma música de fundo e o lugar desse encontro fosse um parque, ou um lugar florido ao céu aberto. Quase que não se largavam mais, pois já sabiam que era o momento mais especial da vida dos dois e que não seria admitida uma repetição. Era espontâneo. Era doce. Era literário. O abraço durou quase dois minutos, todavia, não foi tão longo... pois, a saudade havia sido cruelmente demorada, os afastando por seis meses.
  "Promete para mim que... " - ele falou e foi interrompido pelo tocar de um violão erudito, que indicava o início da aula. Não satisfeito, tentou novamente: "Promete que não vai sumir outra vez e que se for para sumir, irá avisar. Promete?" - ela respondeu: "Prometo. Só não entendi uma coisa... Por que tenho que avisar?" - Ele sorriu e a abraçou. Em sussurro ao pé do ouvido: "Porque se for para sumir, que você suma comigo." - Nada mais havia para ser dito. Calaram-se, então. E o silêncio só foi interrompido ao estalo de um beijo. Um beijo que significava algo que palavras não poderiam traduzir ao passarem dos lábios: "Eu te amo".

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